Santa, Rebelde e Visionária | A monja que descreveu o orgasmo feminino

Décima filha de um casal católico, Hildegarda de Bingen foi dada como dízimo ao nascer no ano de 1.098.

Na cidade de Bermersheim na Alemanha ela foi entregue à Igreja para ser monja. Seus pais a deixaram em um mosteiro que tinha uma ala destinada à mulheres quando ela tinha oito anos de idade.

Desde os três anos Hildegarda tinha visões, mas só depois dos quarenta começou a escutar uma voz que lhe dizia que escrevesse e desenhasse tudo aquilo que seus olhos e ouvidos alcançassem.

Pintora, poeta, compositora, cientista, monja, filósofa, profeta… uma mulher de um poder e uma coragem impensáveis para a época. Hildegarda tornou-se abadessa e atormentada por suas visões convenceu o Papa que a permitisse escreve-las e assim começou a registrar suas visões, suas previsões, escreveu livros de medicina, de remédios naturais, cosmologia e teologia. Um tempo depois começou a estreitar relações com as autoridades eclesiásticas e políticas tornando-se conselheira, algo que era totalmente vetado para mulheres naquela época.

Com relação ao sexo a monja foi uma revolução que pouco se conhece, falava do tema com uma liberdade que não existia na época, especialmente na vida religiosa. Em uma linguagem clara e apaixonada Hildegarda fez o que seria a primeira descrição do orgasmo feminino do ponto de vista de uma mulher e se atreveu a garantir que o prazer sexual era de ambos, homem e mulher, e não somente do homem como se fazia acreditar na época.

Para ela, o ato sexual era algo belo, sublime e ardente.  Nos seus livros dedicados à medicina abordou com frequência o tema da sexualidade. Em”Causa et Curae”, ela descreve com detalhes:

“Quando a mulher se une ao homem, o calor do cérebro dela, que tem em si o prazer, faz com que ela saboreie o prazer da união e atraia a ejaculação do sêmen. E quando o sêmen cai em seu lugar, esse fortíssimo calor do cérebro o puxa e o retém consigo, e imediatamente o órgão sexual da mulher se contrai e se fecham todos os membros que durante a menstruação estão prontos para abrir-se, do mesmo modo como um homem forte agarra uma coisa dentro de sua mão.”

Além de sua produção relativa ao sexo, em particular sobre a mulher e sua sexualidade, Hildegarda tinha uma leitura bem polêmica com relação a diversos dogmas católicos como por exemplo sua visão ultra feminista de Eva e o pecado original.

No livro “História Medieval do sexo e do erotismo”, Ana Martos explica “assim como para Santo Agostinho a concupiscência é o castigo de Deus, para Hildegarda, que não se atreveu a contradizê-lo e admitiu a ideia de que o pecado original era de luxúria, a culpa foi de Satanás, que soprou veneno sobre a maçã antes de entregá-la a Eva, invejoso de sua maternidade. Esse veneno foi, precisamente, o prazer, e seu sabor, o desejo sexual.”

Maravilhosa essa mulher, e estamos falando do ano 1.100!!! No livro da própria Hildegarda, “De Gustu Pomi”, sobre este tema ela descreve o sabor da condição humana, o delicioso sabor que dá lugar à peçonha do vício, o prazeroso e embriagador sabor do pecado: o desejo sexual é o sabor da maçã.

O erotismo permeou toda sua obra, seus poemas também levantavam as questões sexuais.  Tu Dulcissime Amator, um poema dedicado às virgens:

Nascemos no pó,

ai!, ai!, e no pecado de Adão

É muito duro resistir

O sabor que tem a maçã

Eleva-nos, Cristo Salvador

E não para por aí, tem muito mais sobre essa mulher fantástica, vejam o que ela falava sobre a cerveja e a ressaca:

“(…) de sua parte, a cerveja engorda as carnes e proporciona ao homem uma cor saudável no rosto, graças à força e boa seiva de seu cereal. Em troca, a água debilita o homem e, se está doente, às vezes lhe causa malignidade ao redor dos pulmões, já que a água é fraca e não tem vigor nem força alguma. Mas um homem saudável, se bebe água às vezes, ela não lhe fará mal. Para atenuar os sintomas do excesso molhar uma cadela na água e, com essa água, molhar a frente da pessoa afetada.”

❤

Incrível essa mulher  São tantas coisas para falar dela que não vou dar conta! A história de suas várias mortes… de sua morte real aos 82 anos em uma época onde as pessoas morriam aos 40… suas premonições… a música como cura de doenças…

Bom, fica a sugestão para quem se interessou, assistam os filmes que tratam de sua vida, é muito interessante!

Deixo aqui um que gostei muito “Visión”, os diálogos do filme estão baseados em frases textuais extraídas de seus tratados e cartas, e a trilha sonora foi composta por ela mesma. As fotos que ilustram esse post foram tiradas deste filme. Clique na imagem para assistir.

hildegarda-4

Ah! Só mais uma coisa antes de terminar! Queria deixar também um vídeo clipe que gosto muito do cantor Devendra Banhart que se chama “Für Hildegard von Bingen” essa música foi inspirada nessa mulher revolucionária, feminista e santa. Amém! Assistam é lindo.

Fonte: bonecadecera.com

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